Crescer é tão desafiante quanto nascer
Para educar num mundo repleto de influências, é necessário delimitar espaço, definir papéis e não abrir mão de itens fundamentais – educação moral e religiosa, escolarização, entre outros, tão indispensáveis que, há milênios, o maior de todos os livros já alertavam: “Ensinai à criança o caminho em que ela deve andar, e, mesmo depois de velha, ela não desviará dele” (Prov. 22:6).
Mas até onde os pais podem atender às exigências, às imposições e aos desejos da criança?
Como impor limites num ser ainda imaturo sem causar danos psicológicos ou emocionais?
Formar a personalidade é um desafio. Uma dúvida inquieta especialistas e ecoa a todo instante na cabeça dos pais: Como impor limites aos filhos?
Determinar limites na fase da formação da personalidade é fundamental para ostentar um relacionamento estável e proporcionar a formação do indivíduo que passa a refletir sobre seus valores, direitos e obrigações no seio da família e, posteriormente, na sociedade.
Segundo o jornalista e historiador André Fontaine, “todo adulto é, basicamente, o resultado direto dos limites que recebeu quando criança, de como eles foram colocados, entendidos e aceitos”. A falta de limites na infância colabora para existência de jovens rebeldes e adultos desorganizados emocionalmente. O excesso de liberdade poderá comprometer o relacionamento entre pais e filhos, pelo não reconhecimento das linhas demarcatórias.
Mas até onde os filhos são dos pais ou do mundo?
O equívoco maior é criar os filhos para si, e não para o mundo. Poucos estão preparados para uma separação. O rompimento do cordão umbilical é um curso natural. Eles crescem, exigem o seu espaço e vão buscar sua independência. Cabe aos pais prepará-los para encararem os desafios de um mundo que exige a formação da personalidade, do caráter e o conhecimento das regras de convivência. Ética, respeito e limites são valores gerados no seio da família. A escola vai apenas moldá-los e amadurecê-los.
O primeiro passo é saber dizer “não”, para que a criança não cresça acreditando que pode tudo. A consciência de que sempre existirá algo para conquistar, um motivo para atingir objetivos e propósitos através de seus valores que devem ser cultivada. Nessa trajetória, as regras são impostas pelo próprio meio e uma das normas invioláveis é respeitar limites, principalmente os do semelhante.
A psicóloga Tania Zagury acredita que “limite é dizer sim sempre que possível e dizer não quando necessário” e mais: “limite é saber conviver com a frustração e adiar satisfações”. Não devemos ter medo de “frustrar” nosso filho. O mundo será impiedoso em frustrá-los, portanto, é imprescindível prepará-los, fornecer-lhes ferramentas. No conflito entre disciplina e limite, na dúvida entre o “sim” e o “não”, pais se desesperam por terem permitido que os seus filhos fizessem o que queriam, simplesmente por serem crianças.
Constância e persistência são palavras de ouro na experiência de estabelecer e consolidar limites.
Pais devem ser a âncora, a rota, a voz e o silêncio. A âncora que ampara, proporciona segurança, estaciona num porto seguro; a rota que conduz ao crescimento humano e pessoal através da experiência; a voz para falar – não para conter, mas para indicar o caminho; e o silêncio para ouvir os medos, captar as fraquezas, entender as inseguranças e as necessidades de uma criança que necessita de gestos de carinho, palavras de incentivo, atitudes corretivas e calor humano para formar o elo de afeto. Afinal, crescer é tão desafiante quanto nascer.
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